História

PASSAGEIRO DE ÔNIBUS PAGA PELO CARRO DE PASSEIO

Trânsito já desordenado em 1969 na região central da Capital Paulista. Usuário do transporte coletivo paga mais caro pelo privilégio dado aos carros.


Ineficiência custa no bolso dos passageiros
Problema de elevação das tarifas de ônibus acima da média dos salários é bem antigo e tende a se agravar

ADAMO BAZANI – CBN

Você sabia que em São Paulo, na região do ABC Paulista e em várias outras cidades da Região Metropolitana o passageiro de ônibus paga para o motorista de carro andar em seu veículo sozinho e proporcionalmente ocupando mais espaço?
Uma total inversão de valores. Quem defende a redução das tarifas ou até mesmo a cada vez mais utópica tarifa zero ou passe livre diz que o motorista de carro, por impostos ou alguma outra forma de contrapartida, tem de ajudar a financiar os transportes públicos, que ocupam menos espaço, poluem muito menos que milhares de carros juntos e podem levar uma quantidade bem maior de passageiros.
Ocorre que por causa do aumento excessivo do número de carros de passeio e das políticas que privilegiam o transporte individual, criando avenidas que mais tarde se tornam insuficientes frente ao crescimento dos veículos, os meios públicos, principalmente os ônibus, perdem a eficiência e geram mais gastos, que têm de ser compensados em tarifas mais altas.
A conclusão é do Superintendente da Associação Nacional dos Transportes Públicos, ANTP, Marcos Bicalho.
Em entrevista à Revista Veja São Paulo, edição de 09 de fevereiro de 2011, Marcos Bicalho foi enfático ao dizer que: “O Transporte Coletivo é questão de sobrevivência da Metrópole”
E é verdade. O transporte não pode ser encarado apenas como um serviço que leva pessoas de um lado para outro. Mas um agente essencial para a população ter acesso a uma melhor qualidade de vida nas cidades, já que hoje o Brasil é predominantemente urbano, e a outros serviços essenciais, como saúde, educação, lazer, justiça entre outros.
Por causa de os ônibus ficarem presos nos congestionamentos no meio dos carros e não encontrarem vias próprias para seu porte avantajado, não é possível extrair dos coletivos tudo o que eles podem oferecer num serviço de transporte. Como as viagens dos ônibus tendem a ser demoradas, entre outros motivos pela falta de prioridade dada ao transporte público no uso do espaço urbano, eles acabam fazendo menos partidas por dia. È necessário colocar um outro ônibus por causa dos longos intervalos que o trânsito ocasiona na linha. No trânsito, os ônibus, parados, no para e anda, nas frenagens, etc, gastam mais combustíveis e peças, o que precisa ser repassado de alguma maneira para alguém. E isso sobra para quem? Para o passageiro.
Em resumo, este passageiro paga uma tarifa alta porque o poder público dá a mesma prioridade no espaço público para um carro que ocupa 5 metros e leva na maioria das vezes só seu motorista que para um ônibus que ocupa de 12 a 15 metros e leva de 45 a 70 pessoa.
No início do ano, o ABC Paulista, a Região Metropolitana e a Capital tiveram aumentos de tarifa acima da inflação, o que tem sido uma constante. E em São Paulo, os R$ 3,00, segundo a Prefeitura, não são suficientes para pagar o custo do transporte por passageiro, que é de R$ 3,27, ainda de acordo com o poder público. Os R$ 0,27 pelos 9,6 milhões de pessoas transportadas por ano vão para as empresas em forma de subsídio. Neste ano devem somar R$ 520 milhões dos R$ 743 milhões previstos para o transporte. É dinheiro que poderia ser investido no sistema, para mais corredores. Esse é um dos motivos de a tarifa em Curitiba, o melhor sistema de transporte do País, ser mais baixa que o ABC e São Paulo. Os ônibus têm prioridade e um ônibus faz mais viagens que 3 ou 4 por aqui, gastando bem menos.
A foto que apresentamos, de acervo de Luis Otávio, é de 1969 e mostra a região central de São Paulo. Caio, Nicola, Carbrasa e até uma jardineira, já num trânsito desorganizado, o que prova que o problema é bem antigo e só tende a piorar se nada for feito !
Adamo Bazani, jornalista, especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. mediugorie disse:

    Parabéns pela matéria, especialmente pelos exemplos em números.
    No Brasil é assim mesmo, em praticamente tudo. Pagamos caro pela ineficiência e falta de qualidade.

  2. Luiz Vilela disse:

    Caro Adamo
    Não concordo que somente os veículos particulares prejudicam os ônibus. O forte crescimento de usuários demanda replanejamento de linhas, que não é feito. Corredores modernos – BRTs – são eficientes não apenas por ter preferência, mas por não ter um monte de linhas entrando e saindo no meio deles. Em resumo, não se vê uma malha integrada de transporte coletivo na RMSP, o que induz o usuário a utilizar transporte particular.

  3. Gustavo Cunha disse:

    Caro Adamo, boa noite !
    Parabéns pela reportagem. Muito consistente, atual e perspicaz, e porque ? Vejamos:
    1. Dentro de uma certa inocência, se, não houvesse o número BRUTAL de veiculos circulando pelas ruas de SP, da RMSP, até mesmo de Jundiaí, onde moro, cidade com 1 veiculo para 2 habitantes, e temos hoje, +/- 360.000 habs., TALVEZ, eu digo, TALVEZ, o mesmo número de ônibus das empresas, ou, acrescidos de alguns a mais, não muitos, já poderiam prestar um serviço melhor, com mais rapidez, pelo menos;
    2. Evidente a dificuldade do poder público em, através de medidas que privilegiem o ônibus, metrô, trem, em detrimento do automóvel, afinal, qual a nossa indústria, carro chefe ?
    3. No momento em que equilibrarmos, ou melhor, pendermos mesmo, na equação (deslocamento = + ônibus – carros), poderemos encontrar o começo do fim do túnel.
    Abraço forte.

  4. Olá Adamo! Tdo bem ctg???

    Bem, primeiramente parabéns pela suas reportagens (essa na qual tô comentando e a posterior, que mostra os moradores brasileiros em Paris, protestando contra os R$ 3,00 da passagem)…

    Estou a mais de dois anos e pouco num projeto “Bicicletário”, nas estações de METRÔ e em estacionamentos… tbm utilizo as bicicletas diariamente pra deslocamento entre um local pro outro… e, ainda mais, consigo chegar a tempo não só no meu trabalho, mas tbm nos meus compromissos e alguns encontros…

    Entendo que andar de bicicleta na Cidade de São Paulo seja uma aventura e tals, pelos perigos na qual uma cidade grande nos oferece… mas, por outro lado, a bicicleta gera grandes benefícios, como a prática de exercício físico, economia no bolso e grande ganho de tempo num destino desejado… além disso, contribui para a melhoria no meio ambiente…

    Eu sei que esse é o Blog do Ônibus… sou um busólogo tbm… mas, nesses últimos anos, a bicicleta tem ganhado uma grande importância no dia-a-dia…

    Só pra acresentar os números, um carro ocupa um lugar de SETE bicicletas ao mesmo tempo… assim, se o transporte de São Paulo não fosse tão ineficiente como está hoje, não teríamos tanto congestionamentos gigantescos, um ônibus no meio de milhares de carros… enfim, a bicicleta nesses últimos dois, três anos tem ganhado uma grande importância para a Cidade, qdo se trata de Mobilidade…

    Então é isso…
    Forte abraço!!!

  5. Renato Lobo disse:

    Muito boa questão levantada pela matéria…

    A solução para a mobilidade está no transporte público e ponto final.
    Enquanto a opinião pública não entender que está nas mãos dela, na escolha de governantes que incentivem o transporte público, esta mesma população vai sofrer em ônibus e trens cheios…

    Parabens pela reportagem Adamo…mais uma vez

    abraços

    Renato Lobo

  6. Sergio Misael disse:

    Lí, gostei, copiei parte, para enriquecer apelo do meu blog pela mobilização da Sociedade na criação de Conselhos Municipais de Transportes e recomendo este seu blog que é eficientíssimo nas reportagens que mostra.
    Acho que a solução está na mobilização. De nossa parte estamos tentando arrancar uma reação dos usuários. Será que vira???????????

    Abçs

  7. Marcos Galesi disse:

    A passagem dos ônibus o preço tem sido da hora da morte, os custos seriam mais baixos se houvesse regime de concessões de corredores.No ABC o corredor mostra ter viabilidade por causa do contrato de concessão e a empresa investe com orgulho porque é um contrato que valha a pena. Agora aqui em São Paulo, não há criatividade, porque se o poder público tivesse criatividade o sistema em São Paulo era outra.

    Em Curitiba, a passagem é mais barata porque os gastos são menores e bem racionalizado o transporte.

  8. Caro Adamo,sempre fico fascinado pelos ótimos posts!Simplesmente acho sensacionais as fotos antigas da capital paulista!Muito obrigado!

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